Revolução 4.0 na Advocacia: Saiba Como Se Preparar Para os Desafios

João Carneiro 5 min de leitura

Em estudo publicado no ano de 2018 pela World Economic Forum advogados aparecem em 21º lugar na lista das profissões mais ameaçadas pelas máquinas inteligentes.

Se nos primórdios da Revolução Industrial o movimento Ludista se ocupava de invadir fábricas e destruir máquinas para preservar suas funções, todos sabemos que o mesmo não será possível aos advogados à beira da 4º revolução industrial.

Sempre associados a tradição, erudição, intelectualismo e excesso de formalidade, eram os advogados verdadeiros artesãos, porém, mesmo os olhos externos ao mundo jurídico enxergam como a tecnologia vem transformando cada vez mais a advocacia. 

E esse fenômeno tende a se intensificar nos próximos anos.

A tecnologia veio, em primeiro momento, para facilitar a vida dos profissionais da área jurídica, seja com o abandono dos processos físicos, prática de atos processuais virtualmente ou com o Diário de Justiça eletrônico. 

Mas veio também para substituir atividades que antes eram realizadas exclusivamente por advogados.

Assim, cada vez mais Softwares e Inteligência Artificial passarão a exercer atividades burocráticas e ou repetitivas, ao advogado restará apenas o direito na sua forma mais pura.

O Que é a Inteligência Artificial?

Como o próprio nome diz, Inteligência Artificial é reproduzir a inteligência humana de maneira artificial, isto é, simular a capacidade de raciocínio, percepção, tomada de decisões e resolução de problemas.

Este ramo da Ciência da Computação trabalha na elaboração de complexos sistemas que possibilitam às máquinas desenvolver não só raciocínios aproximados ao dos humanos, mas também, o aprendizado. 

A inteligência artificial na advocacia é aplicada visando otimização, mais eficiência no exercício da profissão, intensificando a objetividade que é progressivamente exigida dos profissionais do mundo jurídico.

Assim, entre as consequências ocasionadas no mundo da advocacia pelos avanços tecnológicos citamos, além do fenômeno de abandono da tradição e erudição de Rui Barbosa, Pontes de Miranda e outros, uma automação que aproxima a advocacia do que antes só se visualizava em grandes indústrias.

Como a Inteligência Artificial está Inserida na Advocacia? 

Inegável que nos últimos anos o judiciário brasileiro recebeu mais ações do que em toda sua história, a intensificação das relações de consumo somadas a facilitação do acesso ao judiciário proporcionara uma verdadeira pulverização de ações judiciais no Brasil.

O elevado número de demandas semelhantes faz surgir o chamado “contencioso de massas”. 

Esse fenômeno implica na apropriação, por parte da advocacia, da organização de empresas.

Os escritórios com objetivo de atuar nesse campo, além de envergadura e estrutura de empresa, precisam adquirir organização interna semelhante ao que se visualizava nas indústrias de Henry Ford, verdadeiras linhas de montagem. 

Práticas que buscam eficiência e economia passam a ser perseguidas pelos grandes escritórios, deste modo, passa a atividade advocatícia a ser setorizada.

Há aquele que peticiona, aquele que realiza atendimento de clientes, aquele que participa de audiências e, não raro, aquele especializado em atuação perante Tribunais Superiores, realizando sustentações orais e despachando com desembargadores e ministros. 

Deixam, portanto, os advogados de viver a advocacia por inteiro e passam a vivenciar diariamente apenas fragmentos de seu ofício em algum dos setores da esteira. 

Neste aspecto, a Inteligência Artificial se insere neste cenário substituindo atividades mais burocráticas e repetitivas, sendo utilizada em determinadas áreas do direito mais do que em outras. 

Ou seja, há áreas do direito e tipos de demandas mais receptivas ao uso de ferramentas como a Inteligência Artificial, devendo o profissional do direito, bem como os acadêmicos, ficarem atentos desde já aos destinos que dão aos seus estudos e suas especializações.

Os advogados sobreviverão a Inteligência Artificial?

Diante das inúmeras inovações tecnológicas sustenta Oscar Vilhena, da Fundação Getúlio Vargas, que restarão três tipos de profissionais. 

Chama o primeiro de arquiteto do direito, é o advogado que, assim como o arquiteto, planeja, aperfeiçoa, cria e inova nas teses, construindo uma verdadeira edificação jurídica capaz de solucionar questões complexas, capaz de ensejar na resolução dos novos negócios jurídicos que surgem diariamente.

O arquiteto do direito terá alto nível de especialização técnica na área que atuar e deverá sempre estar antenado nas atualizações do direito, serão essas as características que possibilitarão a resolução dos complexos problemas jurídicos que enfrentar.

O segundo é denominado tecnológico, seria o advogado que se alinha a profissionais de outras áreas, como engenheiros, programadores, analistas e demais profissionais da tecnologia, para encontrar respostas jurídicas no campo tecnológico.

Percebe-se que o advogado tecnológico, além de profundo conhecimento na área do direito, necessitará também de conhecimentos na área da informática e tecnologia.

Por último, cita o artesão, definindo-o como o advogado que lida com problemas individuais, exercendo a advocacia por completo, é o dito advogado tradicional. 

Pode-se dizer que deverá focar sua atuação em áreas não tão propícias a serem massificadas, tais como Direito Penal, Direito de Família, Direito das Sucessões entre outras.

O advogado artesão será um profissional completo, já que, diferente dos grandes escritórios, não possuirá setores destinados ao exercício de atos específicos no exercício da advocacia.

Portanto, para se manter competitivo, deverá ser capaz de, por si só, exercer com maestria a advocacia como um todo, por completo. 

Como os Advogados Devem Se Preparar Para o Futuro da Advocacia?

Essencialmente, para que não sejam “vítimas” dos avanços tecnológicos, os profissionais da advocacia do presente e do futuro deverão desenvolver habilidades que as máquinas não podem ter.

Seja para atuarem em algum dos setores dos grandes escritórios, seja para se inserir em uma das três categorias anteriormente mencionadas, o profissional da carreira jurídica deverá possuir alto grau de especialização, além de estar sempre atualizado.

Deverá manter sempre em vista também que advogar é, e continuará sendo, um sacerdócio, um nobre ofício consistente em gerenciar expectativas, projetos, planos e desejos dos clientes. 

Uma atividade que exige de quem a exerce o cuidado constante com pessoas, suas aflições, sofrimentos e anseios.

E isso, as máquinas não fazem. Ao menos não por enquanto.

Escrito por

João Carneiro

OAB/MS 24.014

Advogado graduado em Direito e Mestre pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Redator de conteúdos jurídicos para WEB harmonizados ao SEO.